Existem fases na vida da gente em que você necessita fazer algumas adaptações. O pior é que surgem situações repentinas que se você não for rápido......dança!!!!
Por uma destas tristes circunstâncias da vida e o falecimento de minha mãe quando eu ainda era uma criança, muitas coisas mudaram de repente na vida da família. Fizemos um caminho inverso...de uma vida boa de classe média alta...para uma vida simples de pobre.....porem" digna e honrada", como diria meu ex aluno e hoje amigo, Lúcio Bocão!
Assim, por uns tempos, o colégio particular virou escola pública, o carro virou busão, o bairro gutierrez virou centrão e por aí vai. Foi assim que com onze anos tive que aprender a me virar sozinho.
Meu avô tinha um sítio com muitas arvores frutíferas e ele mandava sempre as frutas da época para nós.
Certa vez, numa época de mexerica, toda semana chegava um saco de 60 kilos da fruta lá em casa. E tome mexerica no café da manhã, no almoço, na merenda da escola, no jantar e por aí vai. Era só o saco começar a esvaziar e tome mais 60 kilos da fruta. Eu era o irmão mais velho dos cinco e geralmente, naquela época, o irmão mais velho tem que ser o exemplo para os mais novos. Eu não podia nem pensar em não comer a porra da mexerica se não a "Iapa" comia no lombo.

Mas, a vida é ingrata e injusta em certos aspectos. Meu pai chegou em casa depois do trabalho, foi procurar a fruta e achou uma quantidade mínima!...
-Uai..cadê as mexericas?
-Uê pai....... nos chupamos!!!!!
-Todas????
-É!!!!!
-Não minta!!!!!
- Que isto pai!!!!! (claro que os irmãos estavam todos no bolso).
Como era de praxe, ele me chamou para irmos na padaria comprar pão. Aí aconteceu o que nunca tinha acontecido antes, no caminho encontramos com dona Ana, vizinha faladeira que tinha, dentre outros atributos, a mania de tomar conta da vida alheia. Era tudo que eu não queria e não precisava naquele momento.
- Oi seu Antonio...como vai a vida...
- Vamos levando né dona Ana...Vamos levando!!!
- Ai ela soltou....que gracinha seu filho hoje né!!!
- Eu olhando para ela com aquele olhar de " não dona Ana, pelo amor de deus não!!!
- Como assim perguntou meu pai!
- Ora seu Antonio, ele vendeu as mexericas todas e disse que era para ajudar o pai!!! Que filho maravilhoso o senhor tem!
- Ah vendeu?????
- Sim...eu até comprei algumas não foi julinho?
- Eu olhando para ela e pensando " foi sim sua vaca velha, dedo duro, filha da puta.....Você acabou de me fuder...."
_ Aliás já chupei algumas e são muito boas...quando chegar mais me avise tá!
- Em pensamento......" vou avisar sim sua côrna,!!!"
- Tchau gracinha...disse ela apertando minha boceja!!!!
- Eu em pensamento..." vá tomar no oidoseucú...vaca velha!
O silencio de meu pai e meu, durante o resto de nosso caminho já antecipava o que iria acontecer. A Iapa comeu solta em todo mundo, não pela venda das frutas em sí, mas pela mentira. A partir de então secaram as mexericas e as demais frutas enviadas por meu avô e ainda por cima toda vez que a família se encontrava olhares e comentários das minhas tias eram " que menino ruim este, vendendo as frutas que o avô manda!!!!". Mas foi assim que começou minha vida de camelô, que gerou outras histórias, inclusive a do meu irmão gêmeo que existiu durante um tempo, mas que eu nunca tive!

Certíssimo o ditado que diz " A mentira tem perna curta", principalmente quando tem uma dona Ana pelo caminho, que por mim, está queimando no mármore do inferno até hoje!
Muito bom o texto Júlio! Parabéns pelo blog!
ResponderExcluirQuando tiver um tempo contas as histórias dos tempos de DJ.
Aquele abraço
Charlinho